Vencedores dos Prémios Pfizer 2017 (61ª edição)
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- 05-12-2017
Os avanços científicos na otimização dos processos da cirurgia ocular, a revelação de um mecanismo de autocontrolo do parasita da Malária e o controlo da ativação dos neurónios que libertam dopamina na doença de Parkinson, são os projectos vencedores da 61ª edição dos Prémios Pfizer 2017 – a mais antiga distinção na investigação biomédica em Portugal.
Esta 61ª edição dos Prémios Pfizer superou as espectativas, recebendo um total de 79 candidaturas e representando assim o segundo ano mais concorrido desde a sua primeira edição.
Este ano foram distinguidos três projectos – um na área de investigação clínica e dois na área da investigação básica – seleccionados pelo júri entre todos os trabalhos concorrentes a estes prémios.
A cerimónia da entrega dos prémios – no valor de 20€ mil para cada categoria de investigação (básica e clínica) – decorreu no SUD Lisboa Hall, no dia 21 de novembro. O evento contou com uma conferência conduzida pelo Prof. Doutor Alexandre Quintanilha.
INVESTIGAÇÃO BÁSICA – Projetos vencedores:
O parasita da malária modula a sua virulência de acordo com o estado nutricional do hospedeiro
O estudo desenvolvido por Maria Manuel Mota e sua equipa, no Instituto de Medicina Molecular da Faculdade de Medicina da Universidade de Lisboa, demonstra pela primeira vez, que o agente infeccioso responsável pela malária – o parasita Plasmodium – é capaz de detectar e adaptar a sua virulência ao estado nutricional do hospedeiro.
A malária é uma doença infecciosa grave, sendo responsável pela morte de uma criança a cada minuto. No entanto, a maioria dos infectados em zonas endémicas sobrevive. Usando animais modelo a equipa observou que a carga parasitária, assim como a severidade da doença, é significativamente menor em animais sujeitos a uma dieta de restrição calórica. Este efeito é devido a uma diminuição da taxa de replicação dos parasitas dentro dos eritrócitos, que em última instância, pode ditar o desfecho da infeção: sobrevivência ou morte. Estes resultados, recentemente publicados na revista Nature, demonstram que a virulência de um parasita não depende apenas da sua genética intrínseca, mas de factores ambientais que o rodeiam. Isto pode explicar a baixa carga parasitária observada em populações nutricionalmente desfavorecidas, assim como a persistência assintomática de malária nestas regiões. Em contrapartida, o recente aumento de peso geral da população em outras regiões, põem em risco a emergência da doença. Usando várias técnicas de manipulação genética, identificamos uma enzima do parasita que está envolvida na diminuição da sua replicação, tornando-o menos virulento. Este trabalho, realizado no Instituto de Medicina Molecular, em colaboração com outras equipas de investigação internacionais, revelou a "existência de um mecanismo de auto-controlo no parasita que pode ser manipulado por uso de substâncias químicas e servir de base para o futuro desenvolvimento de estratégias terapêuticas".
A actividade dos neurónios dopaminérgicos antes da iniciação das acções promove e envigora movimentos futuros
Joaquim Alves da Silva, investigador da Fundação Champalimaud, é o responsável pelo projeto também galardoado na área de Investigação Básica. Para a equipa de investigação, "decidir quando iniciamos uma ação é essencial para a sobrevivência. Todos os dias iniciamos e terminamos ações sem sequer repararmos. Contudo para um grupo de pessoas isto pode ser extraordinariamente complicado. Os doentes com doença de Parkinson têm dificuldade em iniciar ações e quando as iniciam têm tendência para as realizarem mais devagar". A principal alteração nesta doença é a perda de um grupo de neurónios que libertam dopamina. Contudo é ainda pouco claro qual o contributo deste neurónios para a produção dos movimentos. Neste estudo, através da gravação da atividade de neurónios dopaminérgicos é possível descobrir que a maioria destes neurónios aumenta transitoriamente a atividade antes de se iniciar um movimento. Posteriormente, utilizando uma técnica inovadora, a equipa utilizou luz na atividade dos neurónios produtores de dopamina. Desta forma foi possível ativar ou inibir os neurónios produtores de dopamina observando ao mesmo tempo qual o efeito produzido no comportamento de ratinhos que exploravam livremente uma arena. Descobriram "que a atividade destes neurónios é necessária para o início do movimento, especialmente movimentos mais vigorosos". De forma complementar a ativação destes neurónios foi suficiente para promover o movimento com uma tendência para que se iniciassem movimentos mais vigorosos. Curiosamente, a inibição ou ativação dos neurónios dopaminérgicos durante o movimento não produziu qualquer efeito. Desta forma é possível observar que a atividade transitória destes neurónios é crítica para o início do movimento mas não para a sua execução. Esta observação ao clarificar a função deste neurónio na produção de movimentos poderá contribuir para a "descoberta de terapêuticas inovadoras para o tratamento da doença de Parkinson".
INVESTIGAÇÃO CLÍNICA – Projeto vencedor:
"Neuroadaptação após cirurgia refrativa e de catarata"
Na área de investigação clinica, a investigadora Andreia Rosa, da Universidade de Coimbra e do Departamento de Oftalmologia do Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra e a sua equipa, descobriram que "a catarata é a principal causa de cirurgia ocular e consiste na substituição do cristalino por uma lente intraocular, habitualmente monofocal, que apenas corrige a visão de longe". As lentes multifocais permitem uma adequada visão de longe, perto e média distância sem óculos e são cada vez mais utilizadas. Contudo, as queixas de disfotópsias (encadeamento, halos e brilhos) que alguns doentes apresentam levam à sua substituição em 4-12% dos casos.
Os investigadores desconhecem a razão para o facto de os doentes apresentarem sintomas de gravidade diferente, uma vez que não existe correlação entre sintomas e parâmetros objetivos (como erros refrativos e dispersão de luz). A diferente intensidade das queixas tem sido atribuída à neuroadaptação (capacidade do cérebro se adaptar perante a modificação da imagem que lhe chega), mas o assunto é controverso. Neste trabalho, os investigadores utilizaram a ressonância magnética funcional para esclarecer a ligação entre disfotópsias e as características funcionais do cérebro humano em doentes com lentes multifocais. Os resultados mostram, pela primeira vez, a associação entre as queixas reportadas pelos doentes e a atividade funcional do cérebro em tempo real. A equipa observou a ativação de áreas cerebrais dedicadas à atenção, aprendizagem, controlo cognitivo e execução de tarefas por objetivos, sugerindo o início do processo de neuroadaptação. Os 5 conhecimentos assim adquiridos terão aplicação na melhor seleção da lente a implantar durante a cirurgia de catarata, na avaliação de diferentes desenhos de lentes, de estratégias terapêuticas que favoreçam a adaptação e, de forma mais abrangente, demonstram a capacidade do cérebro não jovem para a aprendizagem visual e plasticidade.
61 anos ao serviço da Investigação Biomédica
Instituídos em 1955, os Prémios Pfizer de Investigação distinguem os melhores trabalhos de investigação clínica e básica, elaborados total ou parcialmente em instituições portuguesas por investigadores portugueses ou estrangeiros e conferem anualmente um prémio monetário no valor de 20.000 euros para cada um dos projetos vencedores em cada área.
Na edição deste ano foram apresentados 79 trabalhos para avaliação do júri, correspondendo 41 candidaturas à área da Investigação Básica e 38 à área da Investigação Clínica. Ao longo destes anos, os Prémios Pfizer de Investigação foram atribuídos a cerca de 700 investigadores, tendo sido premiados 230 trabalhos.
Desde o início, os Prémios Pfizer têm marcado de uma forma positiva a investigação que se faz em Portugal e afirmam-se como um incentivo aos jovens investigadores, abrindo a porta para uma carreira científica. No passado, já receberam esta distinção reputados cientistas portugueses como João Lobo Antunes (1960 e 1969), António Damásio (1974), Alexandre Castro Caldas (1974, 1976 e 1999), Maria do Carmo Fonseca (1981,1987, 1989, 1995, 2002, 2011) Miguel Castelo Branco (2005 e 2006), Mónica Bettencourt Dias (2007 e 2012), Miguel Soares (2009, 2015), Bruno da Silva Santos (2009), Moisés Mallo (2004, 2005 e 2010), entre tantos outros.
Os Prémios de Investigação Pfizer resultam de uma parceria entre os Laboratórios Pfizer e a Sociedade de Ciências Médicas de Lisboa, com o objetivo de contribuir para a dinamização da investigação em ciências da Saúde em Portugal.
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