Prémios Pfizer 2021 com novas descobertas para o lupus, leucemia e lesões na medula espinal

O diagnóstico e prognóstico do Lupus, a recuperação funcional após uma lesão da medula espinal e um melhor conhecimento da Leucemia, são os trabalhos de investigação premiados, no ano em que se assinalam os 65 anos dos Prémios Pfizer.

 Os cientistas Salomé Pinho, do Instituto de Patologia e Imunologia Molecular da Universidade do Porto, Leonor Saúde e João Taborda Barata, do Instituto de Medicina Molecular João Lobo Antunes (iMM) lideram as equipas de investigadores premiados na 65ª edição dos Prémios Pfizer 2021, o mais antigo galardão na área da Investigação Biomédica atribuído em Portugal, com o objetivo de contribuir para a dinamização da investigação em ciências da saúde em Portugal.
Um projeto de investigação clínica e dois de investigação básica serão assim distinguidos pelos Prémios Pfizer 2021, num total de 50 mil euros, entregues numa cerimónia que terá lugar dia 18 de novembro, e que contará com a presença do Presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, Luís Graça, e do Diretor-Geral da Pfizer Portugal, Paulo Teixeira.
Com uma das maiores prevalências na população mundial, especialmente em mulheres jovens em idade ativa, o Lupus Eritematoso Sistémico (LES) é uma doença autoimune clássica, com um pico de incidência entre os 16 e os 49 anos. O impacto na qualidade de vida dos doentes é significativo, sendo uma das formas mais graves da doença a insuficiência renal, com atingimento do rim devido a uma infiltração massiva de células inflamatórias, que pode progredir para doença renal crónica/terminal. É nesta fase que a hemodiálise ou o transplante renal é inevitável. O diagnóstico precoce e a terapêutica destes doentes é ainda um grande desafio, por não existem biomarcadores capazes de predizer quais os doentes que irão progredir para uma doença complicada impedindo a identificação e seleção precoce destes doentes para terapias mais dirigidas.

Neste estudo, é descoberto um novo biomarcador de diagnóstico e prognóstico, capaz de prever o desenvolvimento de doença renal crónica terminal e com potencial de ser incluído no algoritmo diagnóstico e prognóstico de LES e eventualmente de outras doenças autoimunes.

"Neste trabalho, identificamos uma assinatura específica (atípica) de glicanos (carboidratos) à superfície das células renais de doentes com lúpus, glicanos estes normalmente encontrados em microrganismos como é o caso de fungos e vírus, o que revela a identificação de um novo mecanismo molecular que poderá contribuir para a perda de tolerância imunológica associada ao lúpus, traduzido num biomarcador de diagnóstico e com potencial de identificar os doentes com um maior risco de progredir para doença renal crónica", refere a Investigadora do i3S, Salomé Pinho.


Terapêuticas promissoras nas lesões da medula espinal

Um dos dois trabalhos de Investigação Básica premiado, liderado pela Investigadora Leonor Saúde do iMM, centra-se na função das células senescentes como terapêutica promissora nas lesões da medula espinhal.
A medula espinhal funciona como uma via de comunicação entre o cérebro e o corpo, controlando assim as ações motoras e sensitivas. Quando a medula espinhal é lesionada, esta comunicação é interrompida e pode conduzir a situações clínicas irreversíveis. As mais evidentes são a perda do controlo motor das pernas e/ou dos braços e a perda de sensibilidade ao toque e à temperatura.

Ao contrário dos humanos, e dos mamíferos em geral, a medula espinhal de um peixe-zebra consegue regenerar após uma lesão e isso permite a este pequeno animal voltar a nadar. A existência de animais como o peixe-zebra são uma oportunidade de explorar possíveis soluções para um problema tão complexo. Por esta razão, o trabalho focou-se no estudo do microambiente celular da medula espinhal numa abordagem comparativa entre o peixe-zebra e o murganho, que é um mamífero com muito pouca capacidade regenerativa, tal como os humanos.

No trabalho foram identificadas as células senescentes como moduladores do resultado regenerativo após uma lesão da medula espinhal. No peixe-zebra, células senescentes são induzidas na periferia da lesão e vão sendo progressivamente eliminadas, enquanto no murganho estas células acumulam-se e persistem ao longo do tempo. Com recurso a fármacos que induzem a morte das células senescentes há uma considerável recuperação motora e sensitiva em murganhos lesionados.

"Estamos convencidos que a redução das células senescentes é uma estratégia terapêutica promissora não apenas para lesões da medula espinhal, mas potencialmente para outros órgãos que carecem de competência regenerativa", refere a Investigador do iMM, Leonor Saúde.

 

Estudo aponta pistas de novos tratamentos para a leucemia

Na categoria de Investigação Básica, o outro projeto vencedor pertence ao Investigador João Taborda Barata, do iMM, sobre o aumento da expressão do IL-7Rα potenciar para originar leucemia linfoblástica aguda (LLA).
A leucemia linfoblástica aguda (LLA) é um cancro hematológico agressivo. Para desenvolver terapias mais eficazes e seguras, é necessário conhecer mais profundamente a biologia da doença. O receptor da interleucina-7 (IL-7Rα), codificado pelo gene IL7R, é essencial para o desenvolvimento das células linfóides.
No entanto, ele pode ter um papel perverso e promover o desenvolvimento de LLA, sendo que doentes com LLA, em particular na linhagem T, podem apresentar mutações de ganho-de-função em IL7R. Desconhece-se, contudo, se o mero aumento da expressão do IL7R, que se sabe ocorrer em resultado de amplificação génica e de outros mecanismos, em alguns doentes, consegue promover o desenvolvimento da doença.
O trabalho demonstra, usando diferentes modelos animais e dados recolhidos de pacientes com LLA de células T, que, o aumento de expressão do IL-7Rα tem potencial claro para originar leucemia, mesmo na ausência de mutações do receptor. Foi também demonstrado que as leucemias desenvolvidas nos modelos animais se assemelham, em muitos aspectos, às leucemias humanas e que podem ser tratadas com diversos inibidores farmacológicos específicos da via molecular iniciada pelo IL-7Rα.
João Taborda Barata, Investigador do iMM, refere sobre esta investigação: "Em suma, os nossos estudos contribuem para um melhor conhecimento da biologia da doença e apontam pistas importantes para o desenvolvimento de novos tratamentos para doentes com LLA-T com expressão elevada de IL-7Rα".

 

Outras Informações: Galeria de fotos da cerimónia de entrega de Prémios
Vencedores dos Prémios Pfizer: 20202019 |  2018 | 2017  | 
2016 | 2015 |  2014 | 2013 | 2012 | 2011 | 2010 | 2009 | 2008 | Vencedores de Edições Anteriores [.pdf] | Livro "55 anos dos Prémios Pfizer" (2011)

 

Outras Informações: Vencedores dos Prémios Pfizer: 2019 |  2018 | 2017  | 2016 | 2015 |  2014 | 2013 | 2012 | 2011 | 2010 | 2009 | 2008 | Vencedores de Edições Anteriores [.pdf] | Livro "55 anos dos Prémios Pfizer" (2011)