Alfredo da Costa [1905/1907]

28. Alfredo da Costa

A Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, que representou a continuidade entre a Régia Escola de Cirurgia e a Faculdade de Medicina, funcionou em condições muito precárias num edifício em ruína iminente.

Todavia, ao longo da sua existência de 80 anos, conseguiu reunir um escol de professores de elevado nível. De entre os que se encontram consagrados por Columbano nos painéis expostos na Sala do Conselho Científico da Faculdade de Medicina de Lisboa, inclui-se o Professor Alfredo da Costa.

Cirurgião hábil, director de enfermaria do Hospital de São José, é-lhe atribuída a primeira colecistectomia realizada em Portugal. Nessa enfermaria de Santa Maria Ana tinha instalado provisoriamente uma maternidade, iniciando uma orientação para esta área da medicina, a qual lhe veio a conferir o maior reconhecimento público. Cedo chegou a Lente proprietário da cátedra de Partos, ocupando a vaga deixada por Abílio Mascarenhas, tendo tido ainda a responsabilidade transitória da regência da cadeira de Anatomia Patológica.

Alfredo da Costa desenvolveu as medidas de protecção às grávidas e aos prematuros e desenhou medidas profilácticas em relação à patologia das puérperas, acção perseverante que o coloca em lugar de destaque na medicina social da época. A morte precoce impediu-o de concluir um ambicioso projecto de dotar Lisboa de uma maternidade moderna e exemplar, cujo planeamento organizou com minúcia. Inaugurada anos mais tarde, em 1932, foi-lhe com justiça atribuído o nome de Maternidade Dr. Alfredo da Costa.

O Professor Alfredo da Costa distinguiu-se também pela notável colaboração médico-social que deu à Rainha D. Amélia na luta contra a tuberculose, e por ter sido um distinto cultor do jornalismo médico.

Gregório Fernandes [1903/1905]

27. Gregório Fernandes

O Dr. Gregório Fernandes, 27.º Presidente da Sociedade foi cirurgião de grande reputação do Hospital de São José.

Num período incipiente em que as operações eram indicadas com parcimónia e executadas
com grande receio, porque não havia anestesia e era constante o perigo de infecção, o Dr. Gregório Fernandes gozava de dilatada consideração no meio médico lisboeta.

Atribui-se-lhe a primeira ressecção do joelho em Portugal e vários artigos científicos da sua autoria revelam uma preparação médico-cirúrgica invulgar.

A descrição da morte de Sousa Martins, ocorrida quando o Dr. Gregório Fernandes fazia a assistência nocturna ao doente, levantou-lhe uma delicada dúvida de diagnóstico sobre a sua etiologia e que não conseguiu esclarecer.

É digno de registo que o Dr. Gregório Fernandes tenha sido pai de dois brilhantes médicos que muito prestigiaram os Hospitais Civis de Lisboa, um dos quais Alberto MacBride, foi o quadragésimo nono Presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa. O outro filho, Eugénio Mac Bride fez carreira de Medicina nos Hospitais de Lisboa e sofreu também marcada influência educativa através do convívio familiar de seu pai com Sousa Martins.

Miguel Bombarda [1900/1903]

26. Miguel Bombarda

Miguel Bombarda, fascinante e multifacetada figura da Medicina Portuguesa, tem vasta e diversa representação na escultura, pintura, literatura de ensaio e toponímia de diversas localidades, o que consagra a dimensão nacional do seu nome e o integra na galeria das glórias do País.

Cirurgião do banco dois anos após cursar Medicina, cedo direccionou os seus interesses para «os padecimentos dos alienados» no Hospital de Rilhafoles, aí centrando a maior parte da sua actividade assistencial e científica.

Miguel Bombarda teve uma intensa participação política. Considerado um dos caudilhos do Partido Republicano com maior prestígio e representação popular, antecipavam-se no seu futuro elevadas responsabilidades públicas, não fora o atentado mortal que o vitimou.

Deputado às Cortes, era uma das vozes mais respeitadas do Parlamento, onde defendeu a reforma do ensino médico, a criação da Escola Médica de Goa e da Escola de Medicina Tropical. A ele se devem iniciativas relevantes para a Medicina Portuguesa, como o XV Congresso Internacional de Medicina, cuja cerimónia de abertura foi feita coincidir com a inauguração do edifício da Faculdade de Medicina de Lisboa.

A obra escrita de Miguel Bombarda é, porventura, das mais fecundas da Medicina Portuguesa e com mais diversificadas preocupações: das doenças mentais, que ocuparam grande parte da sua vida científica, às questões da organização dos serviços de saúde, da deontologia do exercício profissional, da associação sindical dos médicos, da prática médico-legal e da estrutura dos serviços forenses. Se se adicionarem os textos doutrinários, os de intervenção social, os muitos ensaios sobre crítica literária e as biografias, as muitas centenas de textos de Miguel Bombarda constituem o legado «renascentista» de um livre-pensador, tribuno brilhante, académico e cientista de invulgar envergadura.