Pereira Mendes [1851/1852]

7. Pereira Mendes

Bacharel em Medicina pela Universidade de Coimbra, o Professor Pereira Mendes veio a adquirir o título de Doutor na Universidade de Paris, tendo sido nomeado Lente proprietário de Patologia Interna na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa quase vinte anos depois. A par da leccionação de temas de medicina, desenvolveu actividade assistencial de muito mérito no Hospital de São José.

Dedicou-se a temas vários de higiene, muito em especial a salubridade das águas e a relação com os surtos de cólera, bem como sobre o recurso às vacinas para a prevenção de doenças transmissíveis.

Os discursos que Pereira Mendes proferiu na abertura dos anos académicos do seu mandato revelam uma inteligência arguta, um pensamento rigoroso, o culto de um estilo requintado de oratória e um espírito preocupado com os problemas sociais, aos quais dedicou grande parte da sua intervenção cívica. Estes méritos justificaram a sua eleição para sétimo Presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa.

Magalhães Coutinho [1848/1850 e 1858/1859]

6. Magalhães Coutinho

Sexto Presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, o Professor Magalhães Coutinho teve uma vida longa, que lhe proporcionou uma fecunda carreira profissional e académica e uma empenhada participação cívica. Dotado de inteligência viva e vincado carácter, teve uma adolescência conturbada pelas lutas políticas da época, com a família perseguida pelos rigores do partido miguelista. Restabelecido o regime constitucional, concluiu a licenciatura e logo se habilitou a lugares de magistério na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, onde cedo chegou a Lente proprietário, regendo com justa fama a 6.ª cadeira (Partos).

Foi o primeiro médico em Portugal a aplicar o clorofórmio nos partos (1857) e a operar um doente anestesiado pela amylena.

Nomeado Director da Escola na última fase da sua carreira académica, imprimiu ao mandato a força do carácter e o brilho das suas muitas capacidades de reformador. A apetência pela política, marcada pela adolescência, levou-o a aceitar ser deputado às Cortes, entre 1853 e 1856, período em que apresentou uma proposta de reforma das escolas médico-cirúrgicas, que equiparava, em privilégios e títulos, os alunos de Lisboa e do Porto aos da Universidade de Coimbra.

Depois de uma vida muito trabalhosa, com uma grande dedicação à prática assistencial e ao ensino, Magalhães Coutinho abandonou praticamente o exercício da profissão e pediu a jubilação. Aceitou, então, o convite para ser Médico da Real Câmara e Bibliotecário da Real Biblioteca da Ajuda, cargo em que lhe foram preciosos os seus conhecimentos profundos de latim e de grego.

Homem de grande cultura e elogiados dotes artísticos, era também uma voz respeitada de tribuno pela eloquência oratória. Estimado na corte, na comunidade médica e na sociedade da época pelo prestígio como cirurgião e parteiro, o Professor Magalhães Coutinho foi uma personalidade brilhante da medicina portuguesa da segunda metade do século xix.

Caetano Beirão [1847/1848 e 1853]

5. Caetano Beirão

O Professor Caetano Beirão, quinto Presidente da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, desempenhou o cargo por duas vezes, em 1847 e 1853. No início do seu primeiro mandato encontrou a Sociedade «numa situação quase desesperada, sem relações externas e sem incitamento interno; parecia querer terminar de inanição». Ele a faria ressurgir.

Foi um invejado clínico, um admirado professor e uma referência política realista. Matriculou-se em Coimbra, na Faculdade de Filosofia e, em seguida, na de Medicina, cujos três primeiros anos concluiu com o maior brilho. Encerrados os cursos após o desembarque do Mindelo, foi autorizado excepcionalmente a exercer prática clínica sob a orientação de um professor, tendo-se envolvido profundamente no combate à epidemia de cholera morbus. Após o desterro do Rei, voltou a Coimbra para concluir o Curso Médico (1836).

Em Lisboa, trabalhou nos Hospitais de São Lázaro, Marinha e Rilhafoles. Da actividade clínica e hospitalar resultaram importantes estudos sobre a cólera, a elefantíase dos gregos e a alienação mental. Colaborou nos estudos para converter o Hospital Rilhafoles em Hospital dos alienados.

Tendo tido grandes dificuldades políticas para ingressar na Escola Médico-Cirúrgica de Lisboa, as suas excepcionais qualidades elevaram-no a Lente de Matéria Médica ao fim de 11 anos, sendo considerado um eminente professor.

Nascido e educado no absolutismo, a ele se manteve fiel toda a vida, sendo muito particular e notável a situação de deputado realista na Câmara Constitucional, em 1842 e 1863. Aí defendeu corajosamente a reforma do ensino médico que equiparava os graus a atribuir pelas Escolas Médico-Cirúrgicas de Lisboa e Porto à Faculdade de Coimbra, não obstante a sua apregoada fidelidade «aos seus colegas e mestres lentes da Universidade de Coimbra» (declaração de voto).