A Sociedade como Forum de discussão científica
A partir da segunda metade do século XX, a Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa adoptou outro método para as suas acções, apostando em iniciativas relacionadas com a evolução da Medicina e na realização de Fora onde se discutiam matérias de importância social e médica.
Se durante os primeiros 100 anos da sua existência a Sociedade constituiu o local de eleição para a apresentação e discussão da actividade científica dos seus membros, o progressivo desenvolvimento da ciência e tecnologia médicas, trouxe consigo a inevitável fragmentação de disciplinas e a criação de um número crescente de especialidades. A constituição progressiva de Secções especializadas no seio da Sociedade foi o reflexo dessa tendência causando, nas palavras de Xavier Morato (J. Soc. C. Med. Lisboa, 119:496, 1955), "uma verdadeira debandada" dos seus sócios para as respectivas Secções, a diminuição da sua participação na Sociedade mãe e a redução dos conteúdos do Jornal.
A actividade científica da Sociedade foi, assim, progressivamente adquirindo novos formatos, com a apresentação de iniciativas relacionadas com a evolução da Medicina e, nos últimos anos, sob a forma de Fora dedicados a temas transversais do pensamento e prática médicas.
Referem-se em seguida os principais temas abordados:
Aspectos do serviço nacional de saúde (1975); Administração hospitalar de antibióticos (1976); Curso de actualização em Medicina do Trabalho (1978); Perspectivas actuais da terapia da dor (1978); Cinquentenário da descoberta da penicilina (1979); Perspectivas actuais sobre oncologia (1979); Engenharia genética e responsabilidade dos cientistas (1979);
Jornadas de saúde escolar; Dez lições sobre desenvolvimento embrionário, por Xavier Morato (1981); Doenças parasitárias da Península Ibérica; A medicina portuguesa e a integração portuguesa; O hospital universitário; O neocriacionismo actual (1983); Os caminhos da profissão médica portuguesa no final do século XX; As assimetrias da medicina portuguesa; Declaração de Helsínquia; Academia de Medicina (1989); Ensino médico e cirúrgico; 50 anos de Hospital de Santa Maria; A medicina e a Sociedade de Ciências Médicas; A ecografia em Ginecologia e Obstetrícia.
Entre as áreas desenvolvidas na forma de Forum devem salientar-se:
Ciências básicas e Medicina do nosso tempo; Medicina e Sociedade; Carreiras Médicas no século XXI; O papel das Sociedades Científicas no próximo milénio; Controvérsias em doença vascular; Gestão hospitalar; Genoma humano; As mulheres na Medicina; Parapsicologia: ciência ou mito; Segredo médico; Velhas doenças, novas pestes; Erro; A saúde dos idosos - reflexões; A violência em meio familiar; Recertificação médica - implicações a nível nacional e europeu; Impacto das novas tecnologias de intervenção na prática das cirurgias cardiotorácica e vascular; Formação em Centros de Saúde; Células estaminais; Processo de Bolonha e ensino da medicina.
Nos últimos dois anos, em colaboração com a Fundação Calouste Gulbenkian e com o patrocínio da Fundação para a Ciência e Tecnologia, a Sociedade organizou, na sede da Fundação Gulbenkian, dois ciclos de conferências abertas ao grande público denominadas «Ao Encontro da Medicina». O enorme sucesso destas conferências constituiu, mais uma vez, um sinal da importância social da Sociedade das Ciências Médicas de Lisboa, desta vez cumprindo aquele que deve ser um imperativo de qualquer Sociedade médica aberta - oferecer, a toda a sociedade, uma visão séria e informada sobre os sucessos e insucessos, promessas e fracassos da ciência médica.
A Sociedade continua, ainda, a atribuir anualmente os prémios Pfizer de investigação médica. Criados em 1956 por iniciativa de Xavier Morato, foram destinados a distinguir trabalhos apresentados em sessões científicas da Sociedade e, nos anos mais recentes, submetidos a candidatura para o efeito. Os prémios Pfizer constituiram-se nos mais antigos prémios científicos da medicina portuguesa e, ao longo deste meio século, distinguiram muitas das figuras mais representativas da cultura científica médica do País.